Caldo de vôngole tropicanalha

domingo, 30 de agosto de 2009 2 comentários
Queria postar fotos dos pratos, digo, das cumbucas lambidas só para provar que cozinho sublime. Pelo menos a foto da panela cheia, como fazendo churrasco jogasse gordura no carvão só para "chamar o vizinho". Todavia não fotografei, até porque nem planejava este blog para tão logo. Talvez que eu seja discreto. Enfim, está na memória dos que vieram na inauguração do meu apê e provaram esta perfeição culinária: o Caldo de vôngole tropicanalha. O princípio da história deste caldo de vôngole fodástico eu relatei aqui.

Como diz a máxima de meu pai "cozinhar é misturar três coisas gostosas", assim se segue a genealogia do Caldo de vôngole tropicanalha: uma parte da receita vem de uma moqueca-pirão feita de um creme em que eu colocava água, leite de coco, farinha de mandioca, azeite de dendê, etc. Já fiz com camarão, frango e lulas, e é perfeita também como molho de macarrão. Outra, do caldo de sururu (lembrando que não encontrei camarão seco em São Paulo, mas se você tiver como comprar tente usar, deve ficar bom pacas!) A terceira vem de uma sofisticada sopa de mandioquinha com cenoura que tomei na casa de uma tia, acompanhada por um bom vinho.

Ingredientes desse Caldo de vôngole tropicanalha
  • 700gr de vôngoles pré-cozidos
  • 3 cebolas roxas
  • 1 pimentão
  • Farinha de mandioca (tem de ser baiana)
  • Um molho de coentro picado com os talos
  • 400ml de leite de coco
  • 1 tablete de caldo knnor de frango com ervas finas (ok, isso é vergonhoso, mas enfim)
  • Manteiga (margarina de cu é rola)
  • Shoyu (molho inglês ou shoyu doce é viadagem, procure um shoyu tradicional em casas de produtos naturais)
  • Sal a gosto
  • Azeite de dendê (em Sampa você encontra na casa do norte mais próxima)
  • Molho de tomate
  • Cerca de 700ml de água morna
  • 1 cenoura ralada
  • 4 mandioquinhas raladas
Se não há quantidade especificada, use teu olhômetro, véi.

Fazendo o Caldo de vôngole tropicanalha

Vai estar rendendo: Umas seis, sete cumbucas bem serrvidas.

Numa panela grande, jogue um punhado de manteiga e deixe derreter. Frite a cebola até não mais poder, sem deixar queimar todavia. Jogue o pimentão, a cenoura e as mandioquinhas raladas. Jogue um tanto de molho de tomate, para dar uma cor e molhar. Despeje um pouco shoyu por cima, para dar um gosto. Deixe ficar o mais seco possível, daí jogue 200ml do leite de coco. Vá misturando e cuidando para que não grude no fundo da panela. Jogue o coentro. Mexa, mexa, mexa. Jogue o restante do leite de coco. Derreta o caldo knnor num copinho e despeje na panela. Mexa por uns tempos e vá jogando a água morna aos poucos. Jogue sal a gosto, de modo que fique um tiquito mais salgado do que você gosta, para que o vôngole pegue o sal também. Mexa, mexa, mexa, chiquitita! Despeje o resto da água (pode ser que não a use toda, pode ser que precise de mais), deixe a panela quase cheia. Deixe cozinhar por uns quinze minutos, sempre cuidando para que não grude. Quando tiver um caldo quase consistente e já bem saboroso, despeje os vôngoles e deixe cozinhar por uns vinte minutos, para que ele distribua seu sabor e pegue o sabor de nosso molho baiano. Quando sentir que está delicioso (e estará!), pegue um punhado da farinha de mandioca com a mão e deixe escorrer pela panela na medida em que mistura, para não formar bolotas escrotas. Se não estiver cremoso o suficiente, pegue mais outro punhado, repetindo o processo. Desligue o fogo e jogue azeite de dendê a gosto (sei lá, imagine umas cinco colheres de sopa, ou mais).

O segredo de uma comida tropicanalha está em reconhecer que uma boa comida é preguiçosa, assim como nós. Deixe ela se aperfeiçoar, panela completamente tampada, como se ela descansasse na rede. Prepare as cumbucas, mate a cerveja e apague seu cigarro. Abra uma cerveja estupidamente gelada,  distribua o nosso Caldo de vôngole tropicanalha pelas cumbucas e aí é só correr para o abraço. Guarde o suficiente para repetir a dose, porque esta é a verdadeira Soup Nazi (vídeo com melhores momentos). Pode cair bem tomar um trago de uma cachaça de Salinas antes da primeira colherada.

Recomendo fumar um cigarrinho entre uma e outra cumbuca, para filosofar sobre o existencialismo culinário. Após empanturrar-se, terá uma leseira desgraçada. Relaxe, ou trepe preguiçosamente. Nada de sexo selvagem, senão tu vai para o hospital. Após o coito, deite-se e mande a mulher deixar a cozinha nos trinque. Necas de pitiriba que é machismo, mano, eis a simples distribuição de trabalhos.

Caldo de sururu, a Rota do Acarajé (restaurante de comida baiana em São Paulo) e a idéia de um novo prato

sábado, 29 de agosto de 2009 0 comentários
Ia fazer a inauguração de meu apê, fechada aos amigos, sexta-feira à noite. Após acordar tarde, matutar muito, decidi oferecer aos célebres camaradas um caldo de sururu. Na quinta, já tinha feito uma merluza abaianada, que infelizmente ficou apenas "comível", embora o casal que à minha casa veio tenha gostado. Mas eu sabia o que faltava para chegar a um prato muito bom. Tudo arquitetado, meu.
Almocei no restaurante de umas japas que têm bom decote mas melhor tempero, embora não saibam fazer feijão (como toda a gente em São Paulo), pedi informações sobre peixarias e fui à cata do tal do sururu, como uma a ideia fixa.

No meio da Rua Martin Francisco, não mais do que de repente, me deparei com um restaurante de comida baiana, no meio do caminho: chamava-se Rota do Acarajé. Baiano que sou, não resisti: esteja ou não com o estômago entupido, não se nega acarajé. Além do mais, eu poderia obter informações úteis para colocar em prática a minha ideia fixa.

O primeiro susto foi o preço: um baiano true não sabe o que é pagar quase oito contos por um acarajé. Todavia, menos ainda recusá-lo. Daí não é que eu comecei a conversar com os donos da bodega e, para meu desespero, descobri que nem fodendo eu encontraria meus ingredientes? E agora, mané?! Disseram que azeite de dendê, só no Brás. Mas sendo gentil e comunicativo, revelando a alma cheia de axé, tu descobre que uma Casa do Norte ali perto vende azeite de dendê.

Pausa para o acarajé. Minuto sagrado da existência. Avaliá-lo-ei, não se afobem. Não que não seja bom. Vocês gostam de nota, não é; ok, vá lá: 2/5 estrelas a nível de acarajé, 3/5 a nível de comida. O fato é: um bom baiano não tolera mudança da receita quando há perfeição. Perguntei se o acarajé era baiano mesmo. À resposta ("ele fala soteropolitano"), puts, fodeu, fizeram CCAA de baianês. Malandro que sou, estava dentro do previsto, entretanto. Só que fui lerdo e deixei eles colocarem salada. Gosto de acarajé com vatapá, camarão e caruru. Quente, of course. Só.

Resumo do axé: foi bom de comer, a cerveja estava puuuuta gelada, enquanto o acarajé estava um pouquinho queimado, meio salgado e dissolvia o guardanapo que o envolvia, como um véu a uma noiva. Sim, acarajé de cabaço. Pensando bem, os paulistanos devem adorar!

Continuando minha épica busca do jantar, passei na peixaria (ainda na Rua Martin Francisco) que encontrara no Google Maps, Peixaria Angélica. Só peixe de primeira. Da primeira semana do mês, claro, e como já estamos no fim... Plano dois, o que me indicaram as japa: Sacolão Higienópolis. Me perdi pelas rua, mas cheguei insano e perdido.

Expostos, encontravam-se, além de peixes todos frescos (exceto o salmão), um tal de vôngole. Que nunca vi mais gordo. Resolvi testar. Dá um quilo, mano. Oras, minha culinária liga-se à tradição baiano-experimental mesmo. Se desgostassem, ora, seria fácil acusar a flora intestinal de minhas visitas pouco apta às delícias do dendê.
Definitvamente, a missão Caldo de sururu estava abortada. Assim como os sonhos fidedignos de representar a terrinha na pança minha ou de quem me visitasse, que em São Paulo tem de tudo mas só para quem nasceu pros fast food.

Na volta, passei na dita Casa do norte. Perto de casa, comprei umas tigelas-tipo-caldo-de-feijão, compramos cerveja, coloquei Caetano para tocar. Aí começaram os etilíricos a matar as breja, botar o papo em dia. Logo estariam chegando as visitas. Tchan-tchan-tcharan...

O que se deu do vôngole, só no próximo post. Neste mesmo blog, nesta mesma pegada. Que eu vou pingar meu azeite de dendê alucinógeno.

Sobre esta bagaça

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Sou um tropicanalha devotado a hedonismos gastronômicos e trocadilhos infames; na manha da lasanha, falo sobre pratos arretados, putaria e porres homéricos.

Um falso mentiroso, publicitário de mão cheia, amante incandescente - lésbico, por sinal -, e mestre cuca com altíssimo ROI. Digo, redigo pelo contraponto avesso do real. Acima de tudo, vagabundo. Sim, o original tropicanalha.

Sem delongas: vai cozinhar, vagabundo.

Desembucha, malandro!

A priori, só vou estar respondendo a e-mails de moçoilas gostosas.

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*Tudo é obrigatório, fascistagem pura!Create Email Forms