Como diz a máxima de meu pai "cozinhar é misturar três coisas gostosas", assim se segue a genealogia do Caldo de vôngole tropicanalha: uma parte da receita vem de uma moqueca-pirão feita de um creme em que eu colocava água, leite de coco, farinha de mandioca, azeite de dendê, etc. Já fiz com camarão, frango e lulas, e é perfeita também como molho de macarrão. Outra, do caldo de sururu (lembrando que não encontrei camarão seco em São Paulo, mas se você tiver como comprar tente usar, deve ficar bom pacas!) A terceira vem de uma sofisticada sopa de mandioquinha com cenoura que tomei na casa de uma tia, acompanhada por um bom vinho.
Ingredientes desse Caldo de vôngole tropicanalha
- 700gr de vôngoles pré-cozidos
- 3 cebolas roxas
- 1 pimentão
- Farinha de mandioca (tem de ser baiana)
- Um molho de coentro picado com os talos
- 400ml de leite de coco
- 1 tablete de caldo knnor de frango com ervas finas (ok, isso é vergonhoso, mas enfim)
- Manteiga (margarina de cu é rola)
- Shoyu (molho inglês ou shoyu doce é viadagem, procure um shoyu tradicional em casas de produtos naturais)
- Sal a gosto
- Azeite de dendê (em Sampa você encontra na casa do norte mais próxima)
- Molho de tomate
- Cerca de 700ml de água morna
- 1 cenoura ralada
- 4 mandioquinhas raladas
Fazendo o Caldo de vôngole tropicanalha
Vai estar rendendo: Umas seis, sete cumbucas bem serrvidas.
Numa panela grande, jogue um punhado de manteiga e deixe derreter. Frite a cebola até não mais poder, sem deixar queimar todavia. Jogue o pimentão, a cenoura e as mandioquinhas raladas. Jogue um tanto de molho de tomate, para dar uma cor e molhar. Despeje um pouco shoyu por cima, para dar um gosto. Deixe ficar o mais seco possível, daí jogue 200ml do leite de coco. Vá misturando e cuidando para que não grude no fundo da panela. Jogue o coentro. Mexa, mexa, mexa. Jogue o restante do leite de coco. Derreta o caldo knnor num copinho e despeje na panela. Mexa por uns tempos e vá jogando a água morna aos poucos. Jogue sal a gosto, de modo que fique um tiquito mais salgado do que você gosta, para que o vôngole pegue o sal também. Mexa, mexa, mexa, chiquitita! Despeje o resto da água (pode ser que não a use toda, pode ser que precise de mais), deixe a panela quase cheia. Deixe cozinhar por uns quinze minutos, sempre cuidando para que não grude. Quando tiver um caldo quase consistente e já bem saboroso, despeje os vôngoles e deixe cozinhar por uns vinte minutos, para que ele distribua seu sabor e pegue o sabor de nosso molho baiano. Quando sentir que está delicioso (e estará!), pegue um punhado da farinha de mandioca com a mão e deixe escorrer pela panela na medida em que mistura, para não formar bolotas escrotas. Se não estiver cremoso o suficiente, pegue mais outro punhado, repetindo o processo. Desligue o fogo e jogue azeite de dendê a gosto (sei lá, imagine umas cinco colheres de sopa, ou mais).
O segredo de uma comida tropicanalha está em reconhecer que uma boa comida é preguiçosa, assim como nós. Deixe ela se aperfeiçoar, panela completamente tampada, como se ela descansasse na rede. Prepare as cumbucas, mate a cerveja e apague seu cigarro. Abra uma cerveja estupidamente gelada, distribua o nosso Caldo de vôngole tropicanalha pelas cumbucas e aí é só correr para o abraço. Guarde o suficiente para repetir a dose, porque esta é a verdadeira Soup Nazi (vídeo com melhores momentos). Pode cair bem tomar um trago de uma cachaça de Salinas antes da primeira colherada.
Recomendo fumar um cigarrinho entre uma e outra cumbuca, para filosofar sobre o existencialismo culinário. Após empanturrar-se, terá uma leseira desgraçada. Relaxe, ou trepe preguiçosamente. Nada de sexo selvagem, senão tu vai para o hospital. Após o coito, deite-se e mande a mulher deixar a cozinha nos trinque. Necas de pitiriba que é machismo, mano, eis a simples distribuição de trabalhos.