Que os baianos me chamem de traíra: "oxe, onde se viu uma moqueca sem peixe, meu rei!" Que as peixarias me crucifiquem por não lhes ter comprado o peixe nesse fim de semana. Que meus camaradas fiquem com o pé atrás, receosos de que noutra semana eu lhes apareça com outra invenção maluca dessas. Mas o fato é: em terra de vegetarianos, quem faz moqueca é rei! E eu fiz.
Processo de invenção transcriativo pós-baiano
Eu largo o peixe (e quiçá o salame), mas meu cigarrinho não. Pois bem. Entre um cigarro e outro, anotações mil em dezenas de folhas de papel que se amontoavam pelo chão, acrescendo e riscando possíveis ingredientes, consultando mais sites do que o meu próprio bom gosto, foi assim. E eis a lista de ingredientes pronta:
Ingredientes
- Metade de uma couve-flor (só as flores com um pouco do talo)
- 250 gr de palmito picado
- 100 gr de azeitona picada e sem caroço
- Cogumelos azuis (digo, champigonon)
- 2 cebolas
- 4 dentes de alho
- 1 pimentão verde
- 3 tomates
- 1 cenoura média
- 1 molho de coentro
- Mandioquinha (como não tinha no mercado, comprei daquela sopa pronta em pó, sabe?)
- O quanto baste de shoyu
- Sal a gosto
- Azeite de dendê (150ml)
- Óleo
- Farinha de mandioca (tem de ser da baiana, visse?!)
Rende: 3 porções bem servidas e ainda sobra!
Sugestão de consumo: arroz (integral?), pirão, farinha de mandioca e pimenta malagueta. e HEINEKEN.
Mó'de preparar
Assim ó: numa tauba, picota uma cebola em cubo e a outra em rodela; pica os 3 tomates; metade do pimentão em cubo e a outra em rodelas; o alho todo em cubos; corta o coentro (os talo também). Rala a cenoura. Corte a couve-flor deixando um pouco do talo e jogue o shoyu em cima; reserve.
Ok, agora liga o fogo, deixa a panela pelar e joga o óleo, deixando esquentar um pouco; joga todo o alho e um punhado de cebola; mexe, mexe, mexe e joga um outro punhado de tomate. Mexe, mexe, mexe. Aí joga o pimentão. O negócio é sempre ir mexendo, deixando os ingredientes se misturarem corporeamente e depois ir jogando o resto que você picou, exceto a couve-flor - joga também a azeitona. Ah, e o sal, mas não muito para poder jogar shoyu depois. Vai parecer uma sopa bem empapada, você está no caminho certo!
(Vá distribuindo água, sem nunca deixar muita, nem deixar queimar - água morna, por favor!)
Deixe ferver, ferver, ferver. Não digo o tempo, porque coisas dessas na Bahia não se contam. Aí, joga o pó de sopa (se conseguir mandioquinha das de verdade, pode jogar antes de deixar ferver, ferver, ferver), o champignon e o palmito. Deixa o quê? ferver, ferver, ferver.
(Nesse momento pode deixar com mais água, assim, mas não é sopa que tu vai fazer, sabe?)
Negócio é ir experimentando: quando estiver parecendo que está ficando boa a nossa moqueca, joga a couve-flor (e o shoyu que ficou no prato dela) e deixa cozinhar por uns 10 minutos, até estar molinha. Se você achar que tem muito líquido, jogue farinha de mandioca para dar consistência, só cuidado para não empelotar (com uma mão pegue um punhado dela, deixando escorrer e com a outra vai mexendo - processo garantido!). Aí você desliga o fogo e joga o dendê, vai ser uma beleza pura! Ingrediente final, a preguiça suprema: deixa descansar por uns dez minutos, aí você fuma outro cigarro, toma uma cervejinha, beija sua nega...
É mais ou menos isso. Se esqueça nunca: cozinhar é misturar duas coisas gostosas, portanto transcrie, invente, mermão. E aproveita essa receita única porque esse não é um blogue de emo vegan não, sacou?
PS: o sono, ou ressaca pós-moqueca, é natural e não se enquadra em patologia nenhuma.
PS 2: a culpa é dela (ou do Meursault, enfim, ou não-Caê).